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Sem professor, tecnologia não adianta.

  • Foto do escritor: Paulo Dantas
    Paulo Dantas
  • 11 de nov.
  • 2 min de leitura
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A pesquisa TIC Educação 2024, recém-lançada, revela uma contradição preocupante no cenário educacional brasileiro: enquanto as tecnologias digitais avançam rapidamente nas escolas, a formação dos professores para lidar com elas não acompanha o mesmo ritmo. Apenas 54% dos docentes participaram de alguma capacitação sobre tecnologias digitais nos últimos 12 meses, uma queda significativa em relação aos 65% registrados em 2021, durante a pandemia. Mais alarmante ainda é que 77% dos professores apontam a falta de formação como o principal obstáculo para utilizar tecnologias em sala de aula.


Essa lacuna formativa se torna ainda mais crítica diante da chegada da Inteligência Artificial nas escolas. Enquanto 43% dos profes

sores já utilizam ferramentas de IA generativa para preparar conteúdos didáticos — proporção que chega a 58% entre docentes do Ensino Médio —, apenas 33% dos alunos foram ensinados a identificar erros e vieses nesses materiais. A discrepância revela que os educadores estão adotando tecnologias sem o preparo necessário para mediar seu uso de forma crítica e responsável. Entre os docentes que participaram de formação continuada, somente 59% tiveram acesso a capacitações sobre IA em atividades educacionais, e ainda menos — 39% — sobre computação, programação ou robótica.


O desafio se estende à educação digital como um todo. Embora 75% dos professores abordem temas como cyberbullying e discriminação online com seus alunos, assuntos fundamentais como privacidade de dados, algoritmos e proteção digital são trabalhados por menos de 40% dos docentes. A situação se agrava nas escolas municipais, onde 86% dos professores relatam ausência de formação adequada. Paradoxalmente, 64% dos docentes precisaram apoiar alunos em situações sensíveis online nos últimos 12 meses, demonstrando que a demanda por orientação existe, mas os educadores carecem de preparo sistemático para atender essa necessidade crescente.


A pesquisa também evidencia que os professores reconhecem o valor da formação quando a recebem. Entre os docentes que participaram de capacitações, 76% afirmaram que elas contribuíram significativamente para a adoção de novos métodos de ensino, e 67% destacaram o impacto na orientação dos alunos sobre uso crítico e seguro das tecnologias. Nas escolas municipais, a proporção de professores que trabalharam temas sobre saúde mental e tecnologias digitais saltou de 55% em 2021 para 86% em 2024, demonstrando que investimento em formação produz resultados concretos. O caminho à frente exige políticas públicas robustas que priorizem a capacitação contínua dos educadores, não apenas em aspectos técnicos, mas sobretudo na mediação pedagógica crítica das tecnologias digitais.


Esses dados todos do TIC Educação 24 apontam para um fato bem cristalino: não faltam professores dispostos a transformar suas práticas pedagógicas. Falta a eles o apoio sistemático que merecem. Enquanto nossos educadores permanecerem navegando frequentemente sozinhos, estaremos desperdiçando o potencial transformador das tecnologias na educação. A questão não é se devemos investir na formação docente, mas quanto tempo mais podemos esperar para fazer disso prioridade no planejamento estratégico de produtos pedagógicos.

 
 
 

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