Juliana Miranda: Sou formada em Publicidade e Propaganda pela faculdade Cásper Líbero e dei meus primeiros passos com o ensino da língua inglesa em 2008, depois de uma temporada estudando em Londres. Tenho entre minhas especializações profissional o certificado CELTA. Nesses quatorze anos de ensino venho me dedicando ao ensino de adultos, principalmente em ambiente de negócios.
O objetivo deste artigo é mencionar algumas das formas de atenuar os filtros
afetivos dos nossos alunos adultos. Quando ensinamos adultos, principalmente uma
língua adicional, há muita coisa envolvida. É pouco provável que você esteja diante da
primeira tentativa de aprendizado desse aluno. Muitos carregam as marcas de
tentativas frustradas de aprendizado. E com a proliferação de cursos e metodologias,
ditas revolucionárias, é possível que essa frustração tenha aumentado depois de
diversas tentativas. Portanto, tão importante quanto ter um plano de aula bem
elaborado é conseguir entender algumas das nuances que afetam o aprendizado
desses alunos. Krashen (1986) afirma em sua hipótese do filtro afetivo que motivação,
autoconfiança e ansiedade são alguns dos fatores que desempenham um papel
importante no aprendizado de uma língua adicional. Se tratando de adultos as razões
que levam a esses fatores podem ser diferentes de outros grupos etários, por isso é
importante compreender esses aspectos com o objetivo de minimizá-los, criando assim
um ambiente mais acolhedor por todo o período de estudo, o que colabora inclusive
para reduzir desistências ao longo do curso.
Alunos adultos que procuram por aulas em geral tem como motivação a vida
profissional. E por mais que essa motivação pareça suficiente, ela em geral vem
acompanhada de uma grande pressão, afinal seu emprego ou seu desenvolvimento
profissional pode estar atrelado à sua evolução linguística. Ou seja, mesmo havendo
motivação, há uma grande ansiedade por acelerar o processo e alcançar logo a
habilidade desejada. Isso se soma à ansiedade que já é inerente ao processo de
aprendizado de uma língua adicional, tornando o cenário de ensino ainda mais
desafiador. O aluno pode ter sua autoconfiança abalada, afinal, ele está tentando
aprender a língua há tanto tempo, percebe que outras pessoas já conseguiram ou
estão com o inglês mais avançado que o dele, o que o leva a sentimentos de culpa. A
falta de clareza dos alunos com relação às suas próprias expectativas - muitos chegam
com uma ideia fixa de fluência, sem refletir sobre qual tipo de fluência eles buscam e
por que precisam dela - também pode aumentar a ansiedade e diminuir a motivação.
É comum que um aluno adulto chegue com esses três elementos - motivação,
ansiedade e autoconfiança - em total desalinhamento, e portanto, com seus filtros
afetivos bastante fortes. Então como atenuá-los?
Podemos começar buscando encontrar uma motivação genuína. A motivação
revestida de pressão precisa ser revisada e não nos interessa agora. Que os nossos
alunos precisam aprender inglês já sabemos, mas é fundamental que eles tenham
clareza de que isso não vai acontecer do dia para noite. É importante fazer com que a
motivação inerente ao início do processo de aprendizado se mantenha pelo tempo
necessário para o desenvolvimento linguístico. Por isso é interessante desenvolver
com seu aluno uma rota de conquistas, entender onde é seu ponto de partida e suas
metas e com isso programar o que é preciso para chegar ao ponto final. Sempre
lembrando que até o objetivo final serão várias paradas. Essas paradas são
fundamentais para que o aluno possa ver o trajeto que ele já fez e os avanços
conquistados. A sensação de progresso é uma ótima forma de manter seus alunos
motivados, portanto esses pequenos progressos devem ser celebrados.
A motivação alinhada ajuda a manter os níveis de ansiedades baixos, pois o
aluno passa a compreender melhor o processo de aprendizado de uma língua
adicional, se tornando também mais ativo nesse processo. As expectativas e desejos
podem ser revistos e objetivos estabelecidos novamente, dentro das possibilidades de
tempo e disposição do aluno.
Agora podemos abordar a autoconfiança, essa que em geral vem abalada por
dois fatores: o histórico de tentativas que não resultaram no prêmio final, a fluência. E
em segundo lugar pela falta de espaço em ambientes adultos para tentativa e erro.
Muitos levam essa mentalidade para seus ambientes de estudo, tentando evitar assim
qualquer possibilidade de erros, mesmo em ambientes controlados. O primeiro fator
pode ser superado com um trabalho motivacional, como já mencionamos antes, e
também com abordagens menos rígidas de metodologia A ou B, facilitando assim a
assimilação conforme a necessidade de cada aluno. Muitas das metodologias e
abordagens desenvolvidas ao longo do tempo e impostas nas salas de aula não
conseguem satisfazer as múltiplas demandas desses alunos. Esse fenômeno é
descrito por Kumaravadivelu (2006) como o período pós método, onde
macroestratégias devem ser mais valorizadas para desenvolver, entre outras
habilidades, a autonomia do aluno, maximizando suas chances de aprendizado. Porém
vale ressaltar que isso não significa aulas desestruturadas, apenas que há espaço para
diversos métodos.
Já o segundo fator pode ser superado com uma cooperação entre professor e
aluno. Antes de tudo é preciso ressaltar aqui que muitos desses alunos adultos tiveram
um processo de letramento e ensino diferente daqueles que hoje são comumente
discutidos pelas práticas ativas. Muitos ainda se norteiam pelos dogmas de
apresentador (professor) e espectador (aluno), e de erro e acerto. Somado a isso, a
pressão corporativa onde o erro é visto como falha faz com que nossos alunos
reproduzam esses padrões em sala.
A seguir listo algumas das formas de minimizar, ou neutralizar, esses efeitos em
sala :
● Incentivar tentativas de expressão em diversos contextos com atividades
que ofereçam, além da prática estrutural, possibilidades de pensamento
crítico e sua expressão.
● Oferecer feedbacks construtivos quando erros ou deslizes acontecem,
normalizando a tentativa e erro. Identificar quais erros ou deslizes
precisam ser trabalhados e em quais momentos, pois quando corrigimos
excessivamente nossos alunos parte da sua autoconfiança é
comprometida.
● Contemplar saberes prévios e utilizá-los como caminhos para novos
aprendizados. Partir do saber prévio para desenvolver um melhor uso de
estruturas adicionando novos temas é uma ótima estratégia para
desenvolver autoconfiança pois realça a percepção de que já se foi capaz
de adquirir conhecimento, aumentando assim a confiança de que é
possível continuar aprendendo novos conceitos.
Todos esses fatores colaboram para tornar o ambiente da sala de aula um local
seguro, onde o erro não é penalizado, mas usado como instrumento no processo de
aprendizado.
Com os filtros afetivos atenuados, as chances de aulas mais enriquecedoras
tanto para o aluno quanto para o professor são maiores.
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Referencias:
Krashen, Stephen. Theory of second language acquisition (1986)
Kumaravadivelu, Bala. Understanding language teaching (2006)
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